DESCENDENTES DE AUGUSTO CÉSAR DA SILVA BARRETO DE MORAES SARMENTO CAMPILHO E DE ANA AUGUSTA DE MORAIS CAMPILHO MONTALVÃO
(SOBRINHOS DA “SANTA EUGÉNIA”).
António Augusto, nasceu em Vidago a 06.03.1856 e aqui faleceu em 06.10.1857. Guilhermino Augusto de Montalvão de Morais Campilho, nascido em Vidago a 30.01.1859 e aqui falecido a 18.08.1931. Faleceu solteiro e foi afilhado da tia – a “Santa Eugénia”.
Albertina Ulpiana nasceu em Vidago a 03.02.1860 e faleceu (solteira) em Vinhais em 1947.
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Rita da Glória Campilho |
Rita da Glória de Montalvão de Moraes Campilho nasceu em Vidago a 10.02.1861 e faleceu a 30.05.1950 em Lisboa. Esta Senhora casou em Vidago com Luís Augusto de Montalvão de Lima Barreto, que nasceu em Chaves a 18.05.1861 e faleceu, também, em Chaves em 04.08.1929. Do matrimónio de Rita da Glória e de Luís Augusto resultou o nascimento de Maria da Glória, Augusto e Luís. Augusto de seu nome completo, Augusto Campilho Montalvão de Lima Barreto, nasceu em Chaves a 18.04.1884 e faleceu em Vidago a 13.10.1952. Sabe-se que este Senhor participou na I Grande Guerra (1914-18). Foi ferido na Batalha de La Lys, em França em 09.04.1918. Foi Tenente-Coronel da Administração Militar e o seu nome foi atribuído à artéria de Vidago que liga o Largo do Olmo ao Campo de Futebol, João de Oliveira. Sabe-se ainda que o Ten-Cor Lima Barreto casou a 14.10.1903 com Emília da Rocha Vaz Ferreira de Melo que viria a falecer em 1916. Num segundo matrimónio desposou, Amália da Silva Guimarães Sardinha, nascida a 08.12.1896 e falecida 09.04.1978. Deste casamento resultaram, Maria Emília e Maria Adelaide.
Alfredo Aníbal de Montalvão de Moraes Sarmento Campilho, nascido em Vidago a 23.04.1864 e falecido em Lisboa a 08.04.1946. Este Senhor foi Juiz-Desembargador no Tribunal da Relação de Lisboa. Casou em Vinhais a 07.12.1898 com sua prima, Olinda da Glória da Silva Barreto de Moraes Sarmento Campilho, tendo esta nascido em Vinhais a 04.11.1865 e falecido em Lisboa a 05.05.1954. O casal concebeu Aníbal Augusto nascido em Vinhais a 05.06.1900 (foi médico e Presidente da Câmara de Vinhais) e Pedro Vicente, nascido em Montalegre a 22.02.1904 e falecido no Porto a 04.10.1988. Pedro Vicente foi Governador-Civil de Bragança e Juiz-Desembargador no Porto.
Adolfo Abílio de Montalvão de Moraes Campilho nasceu em Outeiro Seco a 08.09.1865 e faleceu, solteiro, no Porto em 1940. Foi Oficial de Finanças e apadrinhou Eugénia Campilho - a “Santa Eugénia”.
Aníbal Euleutério nasceu em Vidago a 07.05.1868 e faleceu, solteiro e ainda muito novo.
Alcina Laura, Morgada da Casa dos Campilhos, nasceu em Vidago 11.11.1869 e faleceu, solteira, também em Vidago, onde está sepultada, a 01.08.1953.
Maria Guilhermina, Morgada da Casa dos Campilhos, nasceu em Vidago a 10.03.1871 e faleceu, solteira, também em Vidago e onde está sepultada, a 02.12.1956. Esta Senhora terá caído sobre uma braseira existente na Casa, facto que lhe terá provocado a morte. A este propósito refira-se que o óbito foi confirmado pelo saudoso, Dr. João Canavarro que já morava na Casa dos Campilhos. Ondina Castanheira, já trabalhava, nessa altura, em casa do Dr. João e recorda-se de o ter acompanhado na triste ocorrência.
Alberto Estácio de Montalvão de Moraes Campilho nasceu em Vidago a 02.10.1873 e faleceu, solteiro, também em Vidago em 1927.
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Familia Lima Barreto |
NOTAS BIOGRÁFICAS DA “SANTA EUGÉNIA”
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Eugénia Campilho (Santa Eugénia) |
Eugénia Adelaide de Morais Campilho Montalvão nasceu em 14 de Junho de 1844 e faleceu em 18 de Março de 1920. Era irmã de Ana Augusta de Morais Campilho Montalvão e, em consequência, cunhada de Augusto César Campilho (proprietário das Águas Campilho).
As irmãs Ana Augusta (1840-1909) e Eugénia Adelaide (1844-1920) – a “Santa” – tiveram ainda uma terceira irmã – Eugénia Cândida, nascida em 28 de Outubro de 1842, em Outeiro Seco, mas que faleceu ainda bebé. Como nota curiosa refira-se que, nesse tempo, era normal no seio familiar atribuir-se igual nome próprio a criança, do mesmo sexo, posteriormente vindoura se a anterior falecesse. Conclui-se, então, que os pais de Eugénia Campilho – a “Santa Eugénia” conceberam três filhas. Uma delas (Eugénia Cândida) faleceu de tenra idade. Eugénia Adelaide – a “Santa Eugénia” morreu solteira e sem descendência aos 75 anos. Ana Augusta (a mais velha das três) foi a única que casou e do seu matrimónio com Augusto César Campilho nasceram 13 filhos.
No que concerne a Eugénia Adelaide de Morais Campilho Montalvão - a “Santa Eugénia”, e segundo relatos que foram atravessando gerações, era uma verdadeira Senhora e do povo. Por exemplo, Ambrozina Oliveira Fraga (que conheceu, muito bem a nossa “Santa Eugénia”) transmitiu aos seus descendentes imagens comportamentais de Eugénia Campilho. Assim, dizia que não obstante ser fidalga e rica sentia enorme preocupação em auxiliar os mais necessitados. Ainda num tempo em que Vidago era uma pequena aldeia, a sua postura de pessoa simples e generosa granjeou-lhe enorme respeito e estima por parte de toda a comunidade local. Ou seja, ainda em vida, Eugénia Campilho, já era venerada pelo seu povo que também a tratava por A JUSTA.
A este propósito será importante recordar testemunhos orais de António Silva (17ABR04/24MAI82) transmitidos aos seus descendentes e que agora nos foram evidenciados por um seu neto, João Rodrigues Silva: António Silva (Toninho Maduro) foi vítima de grave acidente quando era criança tendo ficado com uma acentuada incapacidade motora para o resto da vida. Eugénia Campilho acompanhou, durante alguns anos, o verdadeiro infortúnio daquela criança deficiente e pobre que passava, diariamente, à sua porta. Condoída com a sua situação, Eugénia Campilho, quando alertada pelas suas serviçais pela passagem da criança na sua rua dirigia-se-lhe, frequentemente, entregando-lhe um qualquer bem e deixando-lhe algumas palavras que a alegrasse e confortasse.
Ainda segundo, Ambrozina Oliveira Fraga, quando em Março de 1920 faleceu Eugénia Campilho, o povo acorreu junto do seu corpo de forma consternada. A ideia interiorizada nas pessoas era a de que o seu corpo se apresentava como naturalmente vivo e dele exalava verdadeiro perfume. Um misto de tristeza pela perda da Senhora amada e a crença de que poderia ser “Santa” impediu o povo de que Eugénia Campilho fosse sepultada no comum Cemitério da aldeia que já existia desde 1895. Esta animosidade popular terá determinado que as Morgadas da família fizessem retroceder o corpo da Senhora ao Solar dos Campilhos onde foi depositado na própria Capela do Solar. Foram ainda, ao longo dos tempos, sendo transmitidos testemunhos orais de que, no próprio dia da sua morte, brotavam gotas (parecendo lágrimas) da nogueira sob a qual Eugénia Campilho se costuma sentar para rezar ou, simplesmente, meditar.
Este facto veio vincar, ainda mais, a ideia que o povo de Vidago possuía sobre Eugénia Campilho: a de que era mesmo “Santa”! Assim, gente influente da altura logo pensou em construir uma Capela específica para a Santa Eugénia, no lugar do Côto, no cume de Vidago. António Alípio Alves Teixeira Fraga (marido de Ambrozina) era Mordomo da Festa. A vontade popular era a de que a Festa de Vidago passasse a ser - A Festa da “Santa Eugénia”. Porém, o poder eclesiástico não o permitiu e a romaria de Vidago teria que ser, explicitamente, em honra de Nossa Senhora da Saúde o que vem acontecendo até aos dias de hoje.
Durante algum tempo o corpo de Eugénia Campilho ficou guardado, em urna adequada, na Capela do Solar. O então mordomo, António Alípio Alves Teixeira Fraga, teve conhecimento que era intenção das Morgadas da família sobradarem a Capela do Solar. Este facto terá feito temer pelo destino que, nessa eventualidade, poderia ser dado aos restos mortais de Eugénia Campilho. Seria que a família a reconduziria ao Cemitério local como já era obrigatório por Lei? Teriam vontade de ocultar a urna perante o povo? A gente da aldeia ficou muito preocupada com isso e havia que fazer algo no sentido de o povo sentir a sua “Santa” perto de si.
Tinham passado alguns anos sobre a morte de Eugénia Campilho e a actual Capela do Côto estava, nessa altura, em fase de acabamento. É então que António Alípio Alves Teixeira Fraga e outras pessoas de Vidago, pela calada da noite e não se sabendo bem como arranjaram as chaves, foram à Capela dos Campilhos e retiraram a urna da “Santa” levando-a para a Capela do Coto onde ficou fechada.
Durante muitos anos Eugénia Campilho ali ficou em urna fechada, coberta com tampa de vidro transparente, ao nível do chão e à esquerda de quem entra. Por volta dos anos 50 do Século anterior alguém, em conversa com Ambrozina Fraga, comentou o facto de a urna estar num certo estado de degradação e da necessidade de se fazer algo que obstasse uma maior deterioração da urna. Ambrozina (então já viúva de António Alípio Alves Teixeira Fraga) prontificou-se a custear as despesas com a transladação para uma nova urna, o que veio a acontecer. Ignora-se quem terá, especificamente, executado o trabalho inerente à transladação. Porém, admite-se que possam ter sido senhoras ligadas à Igreja local. O que se sabe é que, na altura, essas pessoas fizeram constar que o corpo de Eugénia Campilho ainda estava intacto. Desde essa altura que a urna contendo os restos mortais da nossa “Santa Eugénia” se encontra no Côto e na última Capela que a recebeu, mas agora na parte inferior do altar.
É verdade que Eugénia Campilho não está beatificada, isto porque a Igreja ainda não a reconheceu como tal. Porém, para os vidaguenses ela é a “Santa Eugénia”. Testemunhos dessa Fé são as Graças obtidas por gente que a venera e o reconhecimento das mesmas como comprovam as oferendas de vária ordem patentes na Capela da Torre do Côto.
OUTRAS CURIOSIDADES DA FAMÍLIA CAMPILHO
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Celícia Braz e marido |
Vários foram os trabalhadores e trabalhadoras que prestaram serviço na Casa dos Campilhos ao longo de muitos anos. Entre os quais refiramos os nomes de Celícia Braz (mãe de Mário Braz, ainda vivo) que ao que consta já nessa altura era uma pessoa jovial e que contagiava todos com o seu comunicativo feitio. Também Inácia Cândida (mãe de Florinda dos Anjos e avó de Horácio Ferreira). Esta Senhora foi cozinheira da família e era natural do Bragado tendo vindo para Vidago muito nova.
Devemos, ainda, evocar Ludovina Augusta (1890/1960) que foi, igualmente, cozinheira da família ainda em vida de Eugénia Campilho - a “Santa Eugénia”. A sua função de cozinheira destinava-se, principalmente, a confecionar as refeições dos trabalhadores agrícolas diários da família Campilho. Em depoimento oral de sua filha, Aldora Canelas, agora internada no Lar da Misericórdia de Vidago, soubemos que sua mãe (Ludovina Augusta, na altura com 30 anos) assistiu ao falecimento de Eugénia Campilho e transmitiu à filha as atribuladas cenas que rodearam o conturbado funeral da “Santa Eugénia”. Ludovina dizia à filha, Aldora (agora com 95 anos e que nasceu em 1924, quatro anos depois da morte de Eugénia Campilho) que a “Santa” era uma pessoa muito generosa mas triste. Vestia-se de roupas compridas e blusas cujas golas lhe escondiam o pescoço. Era, também, crença popular de que as garrafas de azeite generosamente dadas aos pobres por Eugénia Campilho nunca alteravam o nível da talha!
Ludovina Augusta viria a ser uma das pessoas incumbidas de zelarem pelo interior da Capela do Côto. Durante muitos anos ali ia, ao fim da tarde, acender uma torcida de pano mergulhada em tigela de azeite a fim de que uma luz mortiça acompanhasse os restos mortais de Eugénia Campilho, durante a noite.
Num tempo subsequente à vida de Eugénia Campilho - a “Santa Eugénia” e quando a Casa era habitada pelas suas sobrinhas (Guilhermina e Alcina) entre as várias serviçais da fidalga família, ali desempenhou a sua função, Lucinda, uma carismática figura natural de Selhariz. Entre outras incumbências, Lucinda fazia as compras domésticas para o dia-a-dia da família, na então aldeia de Vidago. A serviçal, não obstante ser séria e leal, era caracterizada por caricatos comportamentos. Por exemplo: nos dias de feira chegava junto do homem que vendia galinhas e perguntava o preço do galináceo. O vendedor dizia-lhe que custava 5$00. Lucinda, achando que o preço era elevado, respondia que eram caras. Ainda se fossem 7$00!...Dizia ela!...Assim não compro - respondia!...
Ainda relativamente aos descendentes colaterais de Eugénia Campilho era consensual de que, alguns, se abstinham de falar muito da “Santa Eugénia”. Razões de descrença religiosa ou, até, algum ciúme pela popularidade da tia podiam, eventualmente, explicar esse facto. Porém, a história real desta e de muitas outras famílias estará, sempre, acima da vontade e da posição dos seus vários componentes. A nós, todos, resta, simplesmente, respeitarmos a sua história.
POEMA DE JOÃO OLIVEIRA CRUZ À SANTA EUGÉNIA
Julgo ser importante transcrever, na íntegra e neste documento, os versos dedicados à JUSTA, D. EUGÉNIA CAMPILHO por JOÃO DE OLIVEIRA CRUZ, então, proprietário da PENSÃO TERMAS, no ano de 1920 e que foram publicados, mais tarde, no seu livro, Vidago – Sua História, Origem e Formação.
O produto da sua publicação reverteu, na altura, a favor da comissão da festa anual da localidade que ainda hoje se realiza no 1º. Domingo de Agosto:
“Bendito 18 de Março
Que no Céu houve alegria
Faleceu a Santa Eugénia
Oh! Que tão solene dia.
Nós na terra com tristezas
Vossa fé implorando
Lá no Céu entre as grandezas
Vós oh! Santa estais gozando.
Grande Santa de Vidago
Pedi por nós ao Senhor
Que nos livre do pecado.
Para a sua alma salvar
Já foi para junto de Deus
Eternamente gozar.
Não se importou de riquezas
Nem de vaidades do mundo
Amando sempre a pobreza
O seu valor foi profundo.
Ainda quem diga haverá
Se ela o Céu não merecia
Então quem o merecerá?
Para o Ofício lhe fazer
Mas seu corpo transpirava
Dando sinal de viver.
A Santa ao leito voltou
Sendo grande a concorrência
Que ali a visitou.
De várias terras de longe
A cada momento se está a ver
Vos vêm fazer romaria
A ver se lhe podeis valer.
Com uma vasta devoção
Abraçando-se a seu corpo
E beijando-lhe a sua mão.
Santa Eugénia no seu leito
Todos lhe vinham render
Grande homenagem e preito.
Santa Eugénia foi adorada
Todo o povo que a via
Logo se admirava.
Bem o dava a demonstrar
E com os seus lábios rosados
Parecia viva estar.
Lindo cheiro perfumante
Santa Eugénia é tão linda
Como puro diamante.
Quando ia para o cemitério
Muita gente a acompanhava
Quando chegou à sua campa
Todo o povo protestava.
Para vir para a sua capela
Que ali não podia estar
Porque o povo desconfiava
Que ali a fossem roubar.
Cheia de saudades chorava
Uma nogueira no seu quintal
A onde a Santa se assentava.
A onde se encontra ainda
Vinde-lhes todos render
Grande homenagem infinda.
A quem pediu com devoção
A um andava de muletas
Encontrou-se logo são.
Adeus Santa sem pecado
Quem a quiser visitar
Ela existe no Vidago.”
João de Oliveira Cruz
Por fim, dizer ainda que a compilação deste documento só foi possível graças à preciosidade de dados biográficos da família Campilho pesquisados pela Dra. Helena Carneiro e que nos foram fornecidos para a elaboração deste trabalho. Esta vidaguense (filha de Francisco Carneiro e de Aurora Fraga) investiga com alguma frequência registos paroquiais e, também, consulta a Obra – Famílias Transmontanas – da autoria do Dr. Francisco Morais Sarmento. Pelo interesse que possui na divulgação da história de Vidago, pela sua disponibilidade e, também, generosidade todos devemos estar-lhe muito agradecidos.
Também o vidaguense, João Rodrigues Silva (Administrador da página do Facebook - VIDAGO, PASSADO E PRESENTE! PESSOAS, MEMÓRIAS E PATRIMÓNIO!) foi generoso connosco na partilha de interessante informação a propósito deste trabalho. Aqui reiteramos sinceros agradecimentos por isso.